ESCRITA; UM PROCESSO VIVO E INTERATIVO.

PESQUISA

EVOLUÇÃO TEÓRICA E CONCEITUAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Trabalho de conclusão de curso. Monografia apresentada como exigência para conclusão do curso  de Pós-Graduação em Educação Ambiental, pela (FALC), sob supervisão do professor orientados Igor Waszucuk.

Pereira, Vagner Roberto.                                                         

“...Em virtude da nossa capacidade de projetar imagens mentais para o futuro, nós quando agimos, temos a convicção –valida ou não- de que nossas ações são voluntárias, intencionais e voltadas para um determinado objetivo...”

Capra, Fritjof. As conexões ocultas. Citrix  SP. 2001


Resumo

Com o intuito de compreender e fazer uma reflexão critica sobre as vertentes da educação ambiental esta pesquisa busca conhecer e analise as bases políticas, conceituais, filosóficas e ideológicas da educação ambiental.
Este trabalho analisa a complexidade dos conceitos de sustentabilidade e ecologia e também, os limites da educação ambiental.
E por fim, em uma perspectiva histórica analisa os obstáculos que a educação ambiental tem enfrentado para se consolidar como projeto político social.



ÍNDICE

Pré projeto de pesquisa: tema e justificativa. 
  
1 Sociedade sustentável: educação, homem, meio ambiente e qualidade de vida. 

2 Consciência ecológica e ecologia social: as raízes da educação ambiental.    

3 Sustentabilidade, formulação teórica e conceitual.

4 Conferencias da ONU: Um marco teórico para Educação ambiental.

5 Educação ambiental: um processo de natureza revolucionária. 
  
6. Um desafio de dimensões ideológicas.

7. Conclusão.
  
8 Bibliografia.




  PRÉ PROJETO DE PESQUISA: TEMA E JUSTIFICATIVA

           HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO TEÓRICA E CONCEITUAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E OS DESAFIOS PARA SUA CONSOLIDAÇÃO.

Com o intuito de compreender e fazer uma reflexão critica sobre as vertentes da educação ambiental, O tema vem da necessidade de compreensão da evolução teórica metodológica da E.A e das interações e interconexões do paradigma de sustentabilidade, modelo alternativo de desenvolvimento e progresso material que surgiu no final do século XX.  Seguindo ainda as tendências teórico-metodológicas atuais das ciências históricas, que se beneficiam dos conhecimentos produzidos por outras ciências, essa pesquisa pretende analisar as bases políticas, conceituais, filosóficas e ideológicas da E.A.
A iniciativa dessa escolha baseia-se no principio de que a E.A tem como finalidade promover a compreensão da existência e da importância da interdependência econômica, política, social e ecológica da sociedade.
Segundo Braudel, F. Cada atualidade reúne movimentos de origens e ritmos diferentes.  o estudo do tema é pertinente porque permitira a apreensão desses movimentos de ritmos e origens diferentes que permeiam nossa sociedade atual, e já que o que interessa ao historiador é a interação, os pontos de ruptura e onde se entrelaçam os movimentos da sociedade, o estudo do tema justifica porque em função de suas interconexões irá colaborar para a compreensão da questão que esta em pauta em muitos dos debates nos fóruns mundiais: A educação ambiental e a sustentabilidade, um movimento da sociedade rumo à transformação de seus padrões éticos, morais, econômicos e sociais.

Delimitação 

            Juntamente com o processo de desenvolvimento capitalista a sociedade passa a desenvolver um volume muito grande de conhecimentos a cerca de sua realidade social, econômica, política, técnica e ecológica.  
Partindo do pressuposto de que existem linhas de conexões entre o progresso e o desequilíbrio, que precisam ser compreendidas e esclarecidas, surge à seguinte questão: quais os principais desafios que a educação ambiental tem enfrentado para se consolidar como projeto político-social?

Objetivos

O primeiro objetivo da pesquisa é conhecer e compreender, a partir da analise, as bases políticas, conceituais, filosóficas e ideológicas da educação ambiental.
É também, objetivo da pesquisa conhecer e analisar a complexidade dos conceitos de sustentabilidade e ecologia e também, os limites da educação ambiental.
E por fim, em uma perspectiva histórica analisar os obstáculos que a educação ambiental tem enfrentado para se consolidar como projeto político social.

Metodologia de trabalho.  

            A proposição metodológica dessa pesquisa esta em sintonia com o marco conceitual das ciências históricas e consiste em ser um método critico de coleta, comparação, analise e interpretação de dados. O relatório de pesquisa será construído a partir da consulta e analise de trabalhos já realizados na área de história, ecologia, educação ambiental e pedagogia.
             A viabilidade dessa pesquisa esta na relativa acessibilidade as fontes históricas que estão entre elas: pesquisas da área de história, educação ambiental; ecologia, pedagogia, além de jornais e outros tipos de mídias.
           O cronograma de trabalho esta organizado de modo que primeiramente será feito o levantamento e a análise de trabalhos nas áreas citadas para o entendimento da dinâmica e das interações e interconexões dos vários fatores sociais, econômicos, biológicos físicos e ecológicos.
             Em seguida o trabalho será realizado a partir da coleta dos seguintes dados: as principais vertentes do ecologismo e sua definição, o modo como foram definidas as bases e os princípios da educação ambiental, a indicação que os autores consultados fazem sobre as limitações da educação ambiental e a legislação elaborada no Brasil sobre políticas educacionais.
Na ultima etapa do trabalho será elaborado a conclusão do relatório de pesquisa e feita a entrega da monografia. 

1. Sociedade sustentável: educação, homem, meio ambiente e qualidade de vida.

Todo o debate que gira em torno do tema ambiente parte de dois pressupostos básicos: o primeiro é a relação ser humano-natureza e o segundo, no qual deriva dessa relação, é o conceito de ambiente. E  tal como o entendemos, é construído pela ação do homem, e dessa forma pode ser repensado, reconstruído e modificado, tendo em vista nossa responsabilidade presente e futura com a existência, as condições e a qualidade de vida, não só dos seres humanos, mas como de toda a biosfera.
Atualmente estamos presenciando os efeitos ocasionados pelo processo de urbanização, chegando a praticamente desvincular o ser humano de seu relacionamento com a natureza. O desenvolvimento do meio urbano resulta em intensa e profunda manipulação do ambiente. Daí decorrerem acentuadas modificações que recaem sobre a paisagem, a comunidade, o estado psicológico e fisiológico dos habitantes, além de darem origem a fatores culturais, tanto econômicos como políticos que, isolada ou coletivamente, influem ou mesmo determinam a qualidade de vida da população ali residente.
A Organização Mundial da Saúde - OMS (1996) define qualidade de vida como as percepções individuais sobre sua posição de vida no contexto dos sistemas de cultura e de valores em que vivem, e em relação às suas metas, expectativas, padrões e preocupações. É um conceito abrangente, que incorpora de uma forma complexa, a saúde física, o estado psicológico, o nível de dependência, as relações sociais, as crenças pessoais e o relacionamento com características que se destacam no ambiente. Portanto fica bem claro que a qualidade de vida de uma população influencia bastante no tipo de visão da sociedade, de como as pessoas passam a atuar neste meio, ou seja, as suas ações estão diretamente relacionadas ao seu contexto social e cultural.
Para FORATTINI (1991), qualidade de vida, em sua essência, se traduz então, pela satisfação em viver. De acordo com esse autor, "o estado de satisfação ou insatisfação constituem na verdade, experiência de caráter pessoal e está ligado ao propósito de obtenção de melhores condições de vida. O grau de ajustamento às situações existentes, ou então, o desejo de mudança, poderá servir para avaliar a presença ou ausência de satisfação".              
O homem busca apenas satisfazer a suas necessidades e diante disso não há preocupação com suas ações, se são positivas ou negativas sobre o meio, refletindo assim em uma crise ambiental, com a degradação dos recursos ambientais. Diante desta problemática é que se faz necessária uma análise crítica para buscarmos um conjunto de soluções que possam mudar as formas de pensar e agir em torno desta questão ambiental. 
A realidade atual exige uma reflexão cada vez menos linear, e isto se produz na inter-relação dos saberes e das práticas coletivas que criam identidades e valores comuns e ações solidárias diante da apropriação da natureza, numa perspectiva que privilegia o diálogo entre saberes. A preocupação com o desenvolvimento sustentável representa a possibilidade de garantir mudanças sócio-políticas que não comprometam os sistemas ecológicos e sociais que sustentam as comunidades.
Seguindo estes preceitos, será possível uma nova visão de mundo, caracterizada por um novo estilo de vida, novos valores e novos significados. De acordo com Pelicione (1998) esta revalorização da vida permitirá um aumento da capacidade de escolha e a busca da satisfação dos sonhos e desejos na arte e na filosofia, na religião e na ciência, objetivando a auto-realização. Só então, se conseguirá viver a vida com "qualidade". Sociedade Sustentável lembra-nos a responsabilidade de transmitirmos aos nossos filhos e netos um mundo com oportunidades iguais as que herdamos.                                                                        
De acordo com Capra (2002), não precisamos inventar comunidades humanas sustentáveis a partir do zero, e sim modelá-las seguindo os ecossistemas da natureza, que são as comunidades sustentáveis de plantas, animais e microrganismos. Uma vez que a característica mais marcante da biosfera consiste em sua habilidade para sustentar a vida, uma comunidade humana sustentável deve ser planejada de modo que, suas formas de vida, negócios, economia, estruturas físicas e tecnologias não venham a interferir com a habilidade inerente à Natureza ou à sustentação da vida.                                                  
O tema da sustentabilidade confronta-se com o paradigma da "sociedade de risco". Isso implica a necessidade de se multiplicarem as práticas sociais baseadas no fortalecimento do direito ao acesso à informação e à educação ambiental em uma perspectiva integradora. E também demanda aumentar o poder das iniciativas baseadas na premissa de que um maior acesso à informação e transparência na administração dos problemas ambientais urbanos pode implicar a reorganização do poder e da autoridade.    
Existe, portanto, a necessidade de incrementar os meios de informação e o acesso a eles, bem como o papel indutivo do poder público nos conteúdos educacionais, como caminhos possíveis para alterar o quadro atual de degradação sócio-ambiental. Trata-se de promover o crescimento da consciência ambiental, expandindo a possibilidade de a população participar em um nível mais alto no processo decisório, como uma forma de fortalecer sua co-responsabilidade na fiscalização e no controle dos agentes de degradação ambiental.                             
Nas tentativas de encontrar uma definição de sustentabilidade REIGOTA (2007) afirma que a aplicabilidade da sustentabilidade "pressupõe a mudança do sistema econômico em seus fundamentos capitalistas." Ainda de acordo com este autor em relação à sustentabilidade com a noção de sociedade sustentável... "A sociedade sustentável é uma sociedade utópica no sentido estrito do termo”                  
  De acordo com (REIGOTA, 2007) a noção de sustentabilidade implica uma dimensão política, social, cultural e biológica e que exige uma extensiva produção e difusão de conhecimentos e de princípios éticos e políticos nos espaços das práticas sociais cotidianas. Dessa forma, é na produção de conhecimentos interdisciplinares sobre a sustentabilidade que se dá o primeiro embate político para a sua concretização.     
Gadotti (2005) afirma que as críticas pelas quais o desenvolvimento sustentável sofre é que o ambientalismo trata separadamente as questões sociais das questões ambientais. Diante destas críticas, o sucesso da luta ecológica hoje depende muito da capacidade dos ecologistas, em convencerem a maioria da população de que não se trata, apenas de limpar rios, despoluir o ar, reflorestar os campos devastados, para vivermos num planeta melhor num futuro distante. Trata-se de dar uma solução, simultaneamente, aos problemas ambientais e aos problemas sociais. Os problemas de que trata a ecologia não afetam apenas o meio ambiente. Afetam o ser mais complexo da natureza que é o homem.      
A educação ambiental ou educação sustentável é definida segundo Dias (1992, pág. 92) como um processo permanente, no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do meio ambiente e adquirem os conhecimentos, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que os tomam aptos a agir individual e coletivamente para resolver problemas ambientais presentes e futuros. E continua ainda o autor... "se caracteriza por incorporar as dimensões sociais, políticas, econômicas, culturais, ecológicas e éticas, o que significa que ao tratar de qualquer problema ambiental, deve-se considerar todas as dimensões." Diante desta problemática posso destacar aqui um dos principais objetivos no que diz respeito à educação sustentável: proporcionar a toda a sociedade a consciência de se adotar comportamentos e atitudes ambientalmente adequadas, possibilitando o desenvolvimento de estratégias que estejam voltadas para a construção de uma sociedade sustentável, ou seja, estabelecendo padrões que proporcione uma melhor qualidade de vida.
 Nestes tempos em que a informação assume um papel cada vez mais relevante, ciberespaço, multimídia, Internet, a educação para a cidadania representam a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação na defesa da qualidade de vida. Nesse sentido cabe destacar que a educação ambiental assume cada vez mais uma função transformadora, na qual a co-responsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento sustentável. Entretanto podemos afirmar que a educação ambiental é uma condição necessária para modificarmos o estado de degradação ao qual o planeta está submetido. Porém, esta não é a única medida suficiente para solucionarmos este problema, a educação ambiental se converte em mais uma ferramenta de mediação necessária entre culturas, comportamentos diferenciados e interesses de grupos sociais para a construção das transformações desejadas. Ou seja, o educador deve atuar como mediador no processo de desenvolvimento de práticas sociais que estejam voltadas para o meio ambiente.
 Estas dimensões explicitam a necessidade de tornar compatível a melhoria nos níveis e qualidade de vida com a preservação ambiental. Surge para dar uma resposta à necessidade de harmonizar os processos ambientais com os socioeconômicos, maximizando a produção dos ecossistemas para favorecer as necessidades humanas presentes e futuras.                                                                         
Assim, a idéia de sustentabilidade segundo Jacobi (2003), implica a prevalência da premissa de que é preciso definir limites às possibilidades de crescimento e delinear um conjunto de iniciativas que levem em conta a existência de interlocutores e participantes sociais relevantes e ativos por meio de práticas educativas e de um processo de diálogo informado, o que reforça um sentimento de co-responsabilidade e de constituição de valores éticos.                                                    
Jacobi (2003) afirma que o desafio é, pois, o de formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora, em dois níveis: formal e não formal. Assim a educação ambiental deve ser acima de tudo um ato político voltado para a transformação social. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva holística de ação, que relaciona o homem, a natureza e o universo, tendo em conta que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degradação é o homem. Para Sorrentino (1998), os grandes desafios para os educadores ambientais são, de um lado, o resgate e o desenvolvimento de valores e comportamentos (confiança, respeito mútuo, responsabilidade, compromisso, solidariedade e iniciativa) e de outro, o estímulo a uma visão global e crítica das questões ambientais e a promoção de um enfoque interdisciplinar que resgate e construa saberes.                                                                                                                         
Hoje, tomamos consciência de que o sentido das nossas vidas não está separado do sentido do próprio planeta. Diante da degradação das nossas vidas no planeta, chegamos a uma verdadeira encruzilhada. Entre um caminho que coloca toda a fé na capacidade da tecnologia de nos tirar da crise, sem mudar nosso estilo de vida poluidor e consumista, e um caminho fundado numa nova relação saudável com o planeta, reconhecendo que somos parte do mundo natural, vivendo em harmonia com o universo, caracterizado pelas atuais preocupações ecológicas. Temos que fazer escolhas. Elas definirão o futuro que teremos. Não me parece, realmente, que sejam caminhos totalmente opostos. Tecnologia e humanismo não se contrapõem. Mas, é claro, houve excessos no nosso estilo de vida poluidor e consumista e que não é fruto da técnica, mas do modelo econômico. Este é que tem que ser posto em causa. E esse é um dos papéis da educação sustentável ou ecológica.
  
2- Consciência ecológica e ecologia social: as raízes da educação ambiental 

Entre os autores consultados no desenrolar dessa pesquisa constatei uma ideia comum que permeia todas as discussões sobre as vertentes e as tendências teóricas da Educação Ambiental: A premência de um processo holístico, que promova o desenvolvimento de uma compreensão mais realista e global das interconexões do mundo. De acordo com Dias, G.F. essa premência “exige uma restauração político-econômico global, baseada na democracia, na sustentabilidade ecológica e socioeconômica da terra fundamentada no estado de direito”. 
Não há dúvidas de que a vertente orientadora desse pensamento supõe uma educação ambiental como um processo de natureza revolucionária e esse tem sido o grande desafio que a educação ambiental tem enfrentado para se consolidar em nossa sociedade.
            Ao analisar as raízes históricas da educação ambiental percebemos que ela não surge como um programa potencialmente revolucionário, surge como uma consciência ecológica com poder compensatório. De acordo com Souza, N.M. “os primeiro ecólogos pretendiam a correção dos efeitos e não necessariamente a crítica ao sistema em seu conjunto”. Por isso uma consciência ecológica compensatória visto que em meados do século XIX o biólogo Ernest Haeckel já utilizava o conceito de ecologia.
            Nesse primeiro momento, o propósito da ecologia era contribuir construtiva e positivamente para a melhoria das condições de vida, e conter a proliferação das ações danosas à natureza, não era estabelecer uma relação entre o desgaste da natureza e o processo de civilização. É evidente, em uma ciência que começa a se configurar em meados do século XIX a influência do positivismo, havia na época uma excessiva preocupação com aspectos meramente descritivo do mundo natural, destacando-se a botânica e a zoomorfologia. As interpretações eram pouco abordadas e a noção de todo ficava circunscrita a analises filosóficas.
            Souza estabelece alguns elementos que no século XIX serviram como limites para o desenvolvimento de uma fundamentação teórica holística para o pensamento ecológico e para a educação ambiental. Geólogos, físicos e biólogos foram os primeiros proponentes das idéias relativas ao equilíbrio da vida, porém eram limitados pelo ideário positivista de progresso e do cientificismo do século XIX; “em função dessa ideologia esses primeiros ecologistas foram condenados ao desprezo, acusados de tentarem retardar o progresso”, além disso, se por um lado à ecologia se isolou em suas especificações cientificas naturais, por outro lado houve o discuido dos cientistas sociais que estavam preocupados na definição de seu campo de trabalho e não trataram a ecologia como objeto de preocupação das ciências sociais.
            Enfim, a ecologia surgiu como ciência dentro dos limites fixados pelo estudo da natureza; não considerou importante realizar analises sociológicas que poderiam indicar a ligação entre o desgaste da natureza e a dinâmica produtiva da sociedade industrial.
            A reação dos intelectuais do século XIX foi pelos desacertos e desequilíbrios estéticos e sociais; não havia a percepção ou a preocupação com a crise ecológica. A ecologia natural do século XIX desenvolveu os princípios do equilíbrio dos ecossistemas os quais estão fundados na interdependência de seus elementos constitutivos.
Em 1890 quando ganhou força à crítica ao progresso e a racionalidade, o jurista europeu George Peckin Marsh contribuiu enormemente para uma transformação no campo da ecologia ao tratar os distúrbios ecológicos como efeitos relacionados com a ação organizada do trabalho humano. Embora o ponto de vista de Marsh tenha contribuído para a mudança conceitual da ecologia, é importante salientar que desenvolvimento sempre houve sem que acarretasse os tipos de problemas que o mundo moderno enfrentava, o homem passou por enormes transformações qualitativas no decorrer da história. O importante, portanto não seria culpar o trabalho da civilização humana, mas compreender o tipo de desenvolvimento característico do mundo moderno.
            A nova ecologia que floresce em meados do século XX é a ciência que estuda as relações entre o sistema social, o produtivo e de valores, característico da sociedade industrial de massa, o campo de ação da ecologia, como ciência é o estudo das distorções geradas na natureza pela interação desses sistemas. Carlos Minc chama essa ecologia de “ecologia social”, proposta epistemológica que busca expor e entender a relação chave entre o sistema sócio-econômico e o equilíbrio da natureza.
Ao buscar as raízes históricas da educação ambiental não podemos deixar de considerar o pensamento ecológico como uma vertente epistemológica, pois seu desenvolvimento ao longo do século XX foi fundamental para o estabelecimento de suas bases teóricas e conceituais.
Nos Estados Unidos um movimento ambientalista começou a tomar impulso no século XX, de acordo com Souza, N.M. esse movimento ambientalista era o verdadeiro pomo da discórdia; representados por dois grupos politicamente rivais: os preservacionistas e os conservacionistas. Antes de expor os conceitos é importante considerar que embora haja dicotomia e rivalidades inerentes aos conceitos, à ecologia coordena de forma dinâmica as abordagens e alimenta-se teoricamente de suas linhas de argumentação.
Nesse período a ênfase e a preocupação do preservacionismo recaía sobre a defesa da intocabilidade da natureza e sobre a proteção desses enclaves naturais contra os avanços do progresso e da degradação por meio da instituição de áreas protegidas, garantindo o respeito e o direito a vida a outras espécies daí o estímulo a criação de parques naturais. Já o conservacionismo apontava para uma perspectiva diferente, retirava suas preocupações da sustentabilidade do sistema produtivo, propondo o manejo criterioso dos recursos naturais em proveito da sociedade como um todo. Percebe-se que essa abordagem concebe a natureza em função dos interesses do sistema.
Ainda hoje, a educação ambiental sofre com essa ambivalência teórica, sem falar no fracionamento de significações que acaba danificando o seu propósito. Sobre esta circunstância Souza afirma: “há vários empecilhos para o progresso educativo no que se refere à ecologia, além das resistências sociais normais, do descaso de muitos e da indiferença de tantos outros constata-se o fato preocupante de haver entre os interessados, confusão de discurso imprecisão de conceitos e omissão de áreas de estudo.

          3- Sustentabilidade, formulação teórica e conceitual:

A década de 1950 exibiu ao mundo as conseqüências do modelo de desenvolvimento econômico adotado pelos países ricos, traduzidos em níveis crescentes de poluição atmosférica nos grandes centros urbanos, em rios envenenados por despejos industriais em perda de cobertura vegetal da terra ocasionando: erosão, perda de fertilidade do solo, assoreamento dos rios, inundações e pressões crescentes sobre a biodiversidade.
Devido o intenso crescimento econômico do pós-guerra, acelerou-se a urbanização, os sintomas de perda da qualidade ambiental começaram a aparecer em diversas partes do mundo. Marcadas por um intenso ativismo a década de 1960 acabou influenciando o ambientalismo. A insatisfação gerada por uma serie de situações, como o crescimento desordenado das cidades; a exclusão social, o autoritarismo, a ameaça nuclear, os desafios ambientais resultantes da ação humana, entre outros problemas foi reunindo cada vez mais pessoas em torno de questões relativas ao meio ambiente; A qualidade de vida e a cidadania. Nesse período gradativamente trabalhos publicados por entidades cientificas e de proteção à natureza passaram também a ressaltar os efeitos nocivos das atividades humanas, especialmente os decorrentes do processo industrial.
O crescimento das inquietações e discussões ambientais gerou o desejo de um movimento mundial de revolução ambiental. A publicação do livro primavera silenciosa pela bióloga Rachel Carson em 1962 que detalha os efeitos adversos da contaminação ambiental, foi um dos acontecimentos apontados por Pelicioni, A.F. como o mais significativo para o impulso da revolução ambiental.
Ao analisar o movimento ambientalista percebe-se que ainda havia uma grande confusão sobre o que seria educação ambiental. Defendiam-se conceitos e abordagens bem diferenciadas em função das diversas visões. De acordo com Souza, N.M. “a educação ambiental surge como um discurso fracionado e sem coesão teórica e conceitual”.
Alguns anos mais tarde no final da década de 1960 surge o conceito elaborado a partir do relatório Brundtland que segundo a afirmação de Souza “tinha uma missão técnica e um objetivo político”. O conceito de desenvolvimento sustentável surge com uma nova perspectiva para o planejamento econômico com objetivo de ser um meio de compatibilidade o esforço do desenvolvimento, o combate à pobreza com o cuidado necessário a preservação da biosfera.
É justo indicar a importância do relatório Brundtland, embora houvesse tantas barreiras para consolidação do conceito inspirado por ele de modo positivo o relatório estimulou o surgimento de trabalhos de monitoramento ambiental em muitos países, ampliou o alcance e a respeitabilidade da luta em defesa do meio ambiente natural, favoreceu a multiplicação de organizações não governamentais e estimulou os esforços de avaliação sistemática, ou seja, colocou em pauta a necessidade de um processo educacional holístico.
A maior dificuldade de aceitação da ideia é que sob a ótica do desenvolvimento sustentável o processo de sustentabilidade teria que superar enormes barreiras institucionais, entre elas: a diminuição do ritmo de crescimento demográfico nos países menos desenvolvidos a diminuição do ritmo de consumo nos países industrializados e a necessidade de limitar o uso de tecnologias danosas, sobre a questão Souza afirma: “A busca efetiva de sustentabilidade implicaria serias medidas de controle demográfico, reforma agrária e reorganização urbana entre outras...nenhuma destas resultantes podem ser aceitas sem crise, todas enfrentariam violentas resistências político sociais, teríamos que examiná-las como hipótese, fora de nosso alcance efetivo”. Souza também indica outra dificuldade para o logro de um desenvolvimento sustentável, o de haver um pólo teórico que afirma; “está limitado pela trágica demonstração que o caminho seguido pelos ricos para serem ricos esta fechado para os subdesenvolvidos”. Além do mais, dificilmente poderiam os países sem tecnologia seguidores de modismos científicos criados fora de seu alcance, participar de forma lúcida e construtiva da recuperação de um desgaste resultante de algo projetado e concebido longe de seus centros decisórios; não apenas máquinas poluentes foram introduzidas e técnicas antigas substituídas por novas; com elas vieram de fora os valores, hábitos, costumes, idéias e até mesmo religiões. O Brasil é um exemplo clássico.
Fora os limites expostos até aqui, há ainda os dilemas conceituais do termo sustentabilidade,  é importante considerar que para qualquer projeto de educação ambiental é útil esclarecer a dificuldade e o uso impreciso feitos destas expressões como: sustentabilidade ecológica que prioriza o equilíbrio natural e implica uma perspectiva preservacionista, já o desenvolvimento sustentável, suas preocupações volta-se para o ângulo do progresso continuado  buscando o equilíbrio social e por fim o uso sustentável que refere-se apenas  ao uso de recursos renováveis.
            Diante da analise feita ate agora sobre o conceito de sustentabilidade surge o seguinte questionamento: qual a real contribuição do termo para a formulação teórica e conceitual das bases da educação?
As discussões a cerca do tema contribuem, na medida que estimulam o desenvolvimento de um processo educacional, (educação ambiental) aplicado às questões do meio ambiente e que promova a compreensão da existência e da importância da interdependência econômica, política, social e ecológica da sociedade e por fim que vai formar e preparar o cidadão para a reflexão e para a ação corretiva e transformadora do sistema e tornar viável o desenvolvimento integral dos seres humanos.
No livro “Ecologia e Cidadania” Minc, analisando o conceito de sustentabilidade e sua aplicabilidade afirma: “a implantação de um modelo de desenvolvimento socialmente justo e ecologicamente sustentado supõe mudanças radicais no nível de consciência da sociedade e nos comportamentos de empresas, governos, justiça e nas políticas econômicas, agrícolas, sociais, industriais. O desafio imposto é de dimensões filosóficas, políticas e civilizatória.
  
     4- Conferencias da ONU: Um marco teórico para Educação ambiental.

A conferencia das Nações Unidas sobre o meio ambiente humano em 1972 em Estolcomo foi o acontecimento isolado que mais contribuiu na evolução do movimento ambientalista internacional, pois estabeleceu um plano de ação mundial e recomendou que deveria ser estabelecido um programa mundial de educação ambiental. De acordo com Souza “a conferência suscitou a ideia de que a única esperança de se chegar à adoção de princípios que resultem no gradual ajuste do processo produtivo e a vida social aos imperativos da sustentabilidade ecológica, sem provocar a emersão do estado autoritário nem crises sociais, reside numa estratégia de adaptação gradual”. Neste caso, projetos de educação ambiental.
            A conferência surge em meio às discussões suscitadas pelos acontecimentos do final da década de 1960 e o ideário ambientalista progrediu das limitadas metas de proteção e conservação dos recursos naturais para uma visão mais abrangente da má utilização da biosfera por parte dos humanos.
Diferentemente das conferencias realizadas anteriormente, de acordo com pelicioni “foi à primeira vez que as Questões políticas, sociais, econômicas e do meio ambiente global foram discutidas em um fórum intergovernamental com a perspectiva de realmente empreender ações corretivas”.
             Se pensarmos em termos prático alguns dos principais resultados da conferencia foram: o reconhecimento da profunda relação entre o meio ambiente e desenvolvimento e a recomendação da implementação de um programa de educação ambiental como elemento fundamental para o combate a crise ambiental.
Cinco anos depois da conferencia de Estocolmo, em 1977, foi realizada em Tibilisi na Geórgia a primeira conferência intergovernamental sobre educação ambiental, organizada pela ONU, cujo principal objetivo segundo Pelicioni, “era suscitar o compromisso dos governos no sentido da instituição da educação ambiental como área prioritária nas políticas públicas”.
    A conferência não resolveu de imediato algumas questões que envolviam a educação ambiental, no entanto é um marco na definição teórico conceitual sobre o que seria educação ambiental. Em Tibilisi forma discutidos os princípios diretores e objetivos que haviam sido delineados em Belgrado em 1975 no encontro internacional sobre educação ambiental, foram apresentadas algumas experiências de trabalho e propostos conteúdos, estratégias de  abordagem e recomendações para implantação da educação ambiental.
Dias, G.F., em seu livro “Educação Ambiental: Princípios e Práticas, analisa alguns documentos elaborados na conferência de 1977 que definem qual a finalidade da educação ambiental e quais são seus princípios básicos. Em sua analise, a educação ambiental teria como finalidade “promover a compreensão da existência e da importância da interdependência econômica, social e ecológica da sociedade; proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir conhecimentos e o sentido de valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar a qualidade ambiental; Induzir novas formas de condutas nos individuas, nos grupos sociais e na sociedade em seu conjunto, tornando-a apta a agir em busca de alternativas e soluções para seus problemas ambientais, como forma de elevação da sua qualidade de vida.
            A partir da analise feita por Dias, concluí-se que a finalidade e os objetivos da educação ambiental devem estar em sintonia com a realidade social, econômica, política, cultural, ecológica, cientifica e tecnológica regional. Dias afirma: “feitos os devidos ajustes a nossa realidade, os documentos de Tibilisi constituem–se em importantes subsídios para o desenvolvimento da educação ambiental” e destaca em sua analise, alguns dos princípios básicos definidos em Tibilisi que fundamenta o seu trabalho e segue citando: “a educação ambiental deverá:
-considerar o meio ambiente em sua totalidade, isto é, em seus aspectos naturais e antrópicos; (político, social, econômico, cientifico, tecnológico, histórico, cultural, moral e ético)
-construir um processo continuo e permanente de todas as fases do ensino formal e não formal; aplicar o enfoque interdisciplinar aproveitando o conteúdo específico de cada disciplina, de modo que se adquira uma perspectiva global e equilibrada;
-concentrar-se nas condições ambientais atuais tendo em conta também à perspectiva histórica; Insistir no valor e na necessidade da cooperação local, nacional e internacional para prevenir e resolver problemas ambientais;
-ajudar a descobrir os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais;
-destacar a complexidade dos problemas ambientais é em conseqüência a necessidade de desenvolver o senso critico e as habilidades necessárias para resolver trais problemas;
-utilizar diversos ambientes educativos e uma ampla gama de métodos para comunicar e adquirir conhecimentos sobre o meio ambiente, acentuando devidamente as atividades práticas e as experiências pessoais.”
            Ao analisar os princípios básicos, a finalidade e os objetivos da educação ambiental que foram definidos em Tibilisi, percebemos que este marco teórico-conceitual está fundamentado em alguns conceitos que são os pilares filosóficos para a educação ambiental, a saber: a sustentabilidade, o desenvolvimento, a ecologia, a cidadania, a cultura, a política, a tecnologia e ciência e os problemas ambientais.
            A realização da conferência foi na verdade um esforço histórico, no sentido de levar múltiplas complementaridades e áreas do saber a uma convergência teórica necessária, a fim de transformar a educação ambiental num processo interdisciplinar e holístico para formação do homem moderno. Esse esforço foi motivado por dois fatores: a falta de coesão teórica no que dizia respeito e educação ambiental e o diálogo entre os interessados que se revela como uma pedagogia multiforme.
Dez anos depois de Tibilisi foi realizado em Moscou, no ano de 1987, um novo encontro internacional: o congresso sobre educação ambiental e treinamento que levantou questões a respeito das dificuldades encontradas e dos progressos alcançados pelos países no campo da educação ambiental, Dias afirma, que apesar dos avanços de Tibilisi “dez anos depois as iniciativas e ações em educação ambiental continuaram a ser esporádicas sem a menor participação e apoio das instituições encarregadas de sua promoção”.  

               5- Educação ambiental: um processo de natureza revolucionária.

Embora haja e houvesse desgastes sistemáticos do meio ambiente as atividades educativas com vista a sustentabilidade não constituíam e não constituem, salvo algumas honradas exceções, agenda prioritária das sociedades modernas. O desafio imposto é fazer da educação ambiental um meio que devera ser capaz de catalizar o desencadeamento de ações que permitam preparar o individuo e a sociedade para o paradigma de sustentabilidade. 
Este tem sido um dos maiores desafios que a educação ambiental tem enfrentado para se consolidar. Até porque, segundo Luzzi, D. “é uma educação de essência política na medida que visa a transformação da sociedade em busca de um presente e de um futuro melhor, é uma educação para o exercício da  cidadania que se propõe a formar pessoas que assumam seus direitos e responsabilidades sociais, a formar cidadãos que adotem uma atitude participativa e crítica nas decisões que afetam sua vida cotidiana”.
            Tendo em vista o fato de que este processo educativo deve ser orientado por uma estratégia de reforma concreta e abrangente de todo o sistema, no qual se encontra o individuo, entendemos o porquê o desafio de ser enfrentado pela educação ambiental é um paradoxo extremamente complexo.
            Ao tratar as reformas e transformações sociais, Mészarós afirma: “na estrutura vigente as mudanças são admissíveis apenas com o único e legítimo objetivo de corrigir alguns detalhes defeituosos da ordem estabelecida; de forma que sejam mantidas intactas as determinações estruturais fundamentais da sociedade como um todo, em conformidade com as exigências inalteráveis da lógica global de um determinado sistema de produção”. A educação ambiental como um fator de ordem externa ao processo produtivo, que surge extremamente como solução reformista da dinâmica do sistema produtivo é uma proposta utópica, ou seja, no processo de mudança à educação ambiental tem como maior desafio histórico não se tornar uma utopia.
            Qualquer proposta reformista que seu poder atua fora de um determinado sistema social com a intenção de agir na alteração de seus rumos, historicamente, torna-se uma utopia.
            Temos que ter claro que a estratégia de defesa do capitalismo é baseada na tentativa de postular uma mudança gradual na sociedade, através do qual se removam defeitos específicos minando as bases sobre o qual as reivindicações de um sistema alternativo possam ser articulados ou incorporar alguns de seus elementos constitutivos.
            Por isso que é necessário, em sintonia com a afirmação de Mezarios, “romper com a lógica do capital se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional significativamente diferente”; Contudo, a tarefa que a educação ambiental terá que enfrentar é incomensuravelmente maior que a negação do capitalismo. Ainda de acordo com Mezarios “o impacto da incorrigível lógica do capital sobre a educação, no geral tem sido grande ao longo do desenvolvimento do sistema, é por isso que hoje o sentido da mudança educacional não pode ser senão o de rasgar a camisa de força da lógica incorrigível do sistema: perseguir de modo planejado e consistente uma estratégia de rompimento do controle exercido pelo capital, com todos os meios disponíveis, bem como com todos os meios ainda a serem inventados”. O desafio é um paradoxo na medida que o processo educacional visa à transformação e a reforma do sistema e negá-lo é correr o risco de tornar-se uma utopia, e dessa forma acabar sendo absorvido e incorporado pela lógica do sistema.
           O fato de a lógica de o sistema vigente absolver alguns elementos do sistema alternativo tem seus pontos positivos. No Brasil, uma política ambiental foi fixada de forma plena pela primeira vez em 1981, -reflexo da primeira conferência sobre o meio ambiente realizada em Estolcomo, pela lei n° 6938; A política nacional de meio ambiente formulou as linhas e a estrutura de administração pública ambiental nacional e um dos seus objetivos também era o estabelecimento da educação ambiental no país.
            No entanto, como afirma Souza; “não se pode confiar na lógica do sistema, nem na capacidade autocorretiva do mercado, a burocracia nos limita em sua impessoalidade penetrando em nossas vidas e condicionando nossa forma de ver o mundo”. É preciso cautela, pois submetido à dinâmica impessoal e imprevisível da normatização burocrática e das novas tecnologias, fica difícil discutir em nível operacional concreto a possibilidade de se lograr um desenvolvimento capaz de sustentar a natureza e o meio ambiente natural.
            A década de 1990 foi marcada pela realização Rio 92. A conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e desenvolvimento, promovida pela ONU no Rio de Janeiro no ano de 1992.
            Esse evento colocou a problemática ambiental como uma questão central para a perspectiva da humanidade, especialmente quanto à necessidade de garantir a sustentabilidade dos recursos naturais como base do processo de desenvolvimento econômico e social. Diversos documentos foram aprovados durante a conferência do Rio de Janeiro, tais como o da convenção do clima e a convenção da biodiversidade. Porém, os documentos centrais são a declamação do rio do Janeiro e a agenda 21.
            Com relação à educação ambiental, a agenda 21 explicitou a necessidade de reorientar a educação na direção do desenvolvimento sustentável, ampliando-se a consciência pública e o incentivo ao treinamento; propôs, também, bases para a ação, objetivos, atividades e meios de implantação.
            Já definidas as bases teórico-conceituais da educação ambiental, no ano de 1994 no Brasil formulou-se a política nacional de educação ambiental aprovada pela lei 9795/99. Ao analisar a política nacional de educação ambiental percebemos que ela esta fundamentada no marco teórico-conceitual estabelecido em Tibilise e corroborado por Moscou e Rio de Janeiro, por seus objetivos e funções a Educação ambiental, ai definida, é necessariamente uma forma de pratica educacional sintonizada com a vida da sociedade, ou seja, é um processo permanente no qual o individuo e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades e experiência que os tornem aptos a agir individual e coletivamente e a resolver problemas ambientais presentes e futuros.

         6- Um desafio de dimensões ideológicas.

            Mesmo estabelecido a partir desse marco conceitual a educação ambiental tem enfrentado, atualmente, um grande problema: há uma fronteira que a delimita: existe diferença entre educação formal, entendida como pratica pedagógica e educação ambiental que não deveria existir. Tratando da questão pedagógica da educação ambiental luzzi, D afirma “observamos que muitos programas de educação ambiental limitam suas preocupações á conservação da natureza, sem prestar a mínima atenção à vida humana, militam em defesa do meio ambiente não pelo direito de todos os cidadãos viverem com dignidade” Luzzi em sua exposição demonstra que a pobreza é um dos obstáculos mais importantes que se tem pela frente pra transitar rumo a um mundo sustentável, destarte, é fundamental uma educação integrada que permita desvelar os sentidos da realidade e este principio deve ser o centro dos programas, porque permite aos educandos desenvolver uma sensibilização a respeito dos seus problemas ambientais  e sociais e buscar formas alternativas de soluções.
            A solução dos problemas presentes não se encontra na mera gestão dos recursos naturais, centro de alguns programas de educação ambiental, requer amadurecimento da espécie humana, ruptura das hipocrisias sociais, construção de novos desejos, de novos horizontes, e de novos estilos de pensamento e de sentimentos. Neste sentido o processo educacional não pode ser neutro deve ser ideológico, um ato político baseado em valores para transformação social.
            A educação formal, entendida como pratica pedagógica, tem como objetivo fundamental formar o cidadão para o mundo do trabalho. Mészarós critica esse principio e afirma: “que a educação não deve qualificar pessoas para o mercado, mas para a vida”. Essa educação significa o processo de interiorização das condições de legitimidade do sistema, que explora o trabalho como mercadoria para induzir os indivíduos a sua aceitação pacifica, ou seja, a educação formal não é um processo baseado na transformação social é um processo neutro, que naturalmente no decorrer do tempo, vai se adaptando de acordo com as determinações reprodutivas em sintonia com a mutação do sistema capitalista.     
           Se por um lado à maioria dos programas de educação ambiental ainda limitam suas preocupações na conservação da natureza, por outro a educação formal trata a educação ambiental como uma simples atividade transversal, pois sua preocupação esta em formar o cidadão para o mercado de trabalho.
            A partir desse ponto de vista o desafio imposto, em relação à educação ambiental inserida no ensino formal, é incorporar nas discussões pedagógicas o consenso de que ela deve estar integradas e ser desenvolvida em todas as matéria, numa perspectiva metodológica interdisciplinar, em outros termos, o desafio é de dimensões filosófica e ideológica na medida que transforma educação formal e educação ambiental num processo educacional único rumo a construção de outro mundo possível cujo o principal referencial seja o ser humano no ambiente. 

         7- Conclusão.

A visão ecológica é relativamente nova. Há pouco menos de três décadas poluição era sinônimo de progresso. Hoje, a opinião pública está mais consciente e crítica. Continua querendo progresso e crescimento, mas já não aceita a falta de responsabilidade ambiental, a poluição, a destruição e desperdício de recursos naturais. Um dos problemas é definir quais os limites do crescimento. Até onde uma comunidade pode usar os recursos naturais e a biodiversidade sem comprometer a sua própria qualidade de vida ou a de seus filhos e netos?          
Não há respostas prontas. Percebemos que os limites devem ser colocados caso a caso, em função das características de cada lugar. Isso pressupõe embate de idéias, possível apenas num ambiente democrático, principalmente com uma imprensa livre. Nossa geração tem um papel muito importante na história da humanidade. É a geração da transição entre duas visões distintas de mundo. Não temos todas as respostas, muito menos a solução de todos os problemas, mas já somos capazes de dizer não ao progresso sem limites e dizer sim ao progresso com responsabilidade ambiental, ainda que, às vezes, não saibamos direito que caminhos são os melhores para nos levar a esse novo desafio.                         
Apesar das diferentes visões de mundo, sempre acreditamos na possibilidade do diálogo, pois, no fundo, parece haver um objetivo comum: viver num mundo melhor, mais preservado, com maior qualidade de vida para todos. Mas não podemos ser ingênuos a ponto de acreditar que, só por que seria o melhor para todos, o sentimento do bem comum é que move os povos e os indivíduos. Pode até ser que a nível da promessa, do discurso, das intenções isso ocorra, mas nem sempre se concretizam em gestos. É preciso estar atento a discursos mentirosos e falsos que usam a linguagem da responsabilidade social e ambiental como biombo para esconder as verdadeiras intenções de lucros crescentes e a qualquer custo. A educação ambiental será absolutamente necessária para conscientizar a sociedade e, com isso, obter a participação mais ativa da mesma. A adoção de uma política ambiental mais eficiente com leis mais rigorosas, monitoramento ambiental adequado e permanente, fiscalização, maiores investimentos em pesquisas de solução ecologicamente sustentável para os problemas ambientais e incentivos fiscais a empresas, será a única alternativa viável para conter os danos ao meio ambiente.
   
8- Bibliografia   

Bloch, Marc. Apologia da história ou oficio do historiados. Ed . Zahar R.J 2001

Braudel, Fernad. História e ciências sociais. Ed  Presença  Lisboa 1990

Capra, Fritjof.. As conexões ocultas . Ed Cutrix 2002

Cardoso, Ciro Flamarion. Vainfas, Ronaldo. Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. Ed Campus. RJ 1997

Collingwood, R.G. A ideia de história. Ed Presença Lisboa 1986

Dias, Genebraldo Freire. Educação ambiental: princípios e praticas. Ed. Thex SP 2007

Fausto, Boris. História concisa do Brasil. Ed. Edusp SP 2004

Fontana, Josep História depois do fim da história. Ed. Edusc. Bauru 1998.

FORATTINI, O. P. Qualidade de vida e meio urbano. A cidade de São Paulo, Brasil. Revista Saúde púbica, São Paulo, vol. 25, n. 2, 1991, pág. 75-86.

Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a pratica educativa. Ed Paz e terra. SP 1996

GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra e cultura de sustentabilidade. Revista Lusófona de Educação. n. 6. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Lisboa, 2005, pág. 15-29.

Gounet, Tomas. Fordismo e teyloriamo na civilização do altomovel. Ed. Boitempo SP 1999

Goff, J.L. A nova história. Ed Martins Fontes. SP 1991

Harvey, David. Condições pós morena. Ed Loyola. SP 1992

Heller, AgnesA história e o cotidiano. Ed Paz e terra 1998

Hobsbawn, Erick. A era dos extremos. Ed Companhia da letras SP 1995

Holanda, Sergio Buarque. Raízes do Brasil. Ed. Companhia das letras

JACOBI, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Caderno de Pesquisa, Mar 2003, n. 118, pág. 189-206.

LUZZI, Daniel. Educação ambiental: pedagogia, política e sociedade. In.: FHILIPPI JR. Arlindo; PELICIONI, Maria Cecília Focesi (ed.). Educação ambiental e sustentabilidade. Barueri, SP: Manole, 2005.

Mariani, Ricardo. A cidade moderna: entre a História e a cultura. Ed. Nobel SP1986

Malheiros, Tadeu Fabricio. (Educação ambiental e sustentabilidade) Saude ambiental e desenvolvimento. Ed USP/NISAM/MANOLE. SP 2003

Mendonça, Sonia Regina. Estado e economia no Brasil: Opções de desenvolvimento. Ed Graal. 1986

Meszaros, Istevan. Educação para além do capital. Ed Boitempo. SP 2005

Minc, Carlos. Ecologia e cidadania. Ed Moderna. SP 1998

Oliveira, Francisco de. Critica a razão dualista: o ornitorrinco. Ed. Boitempo 2003

PELICIONI, A.F. Trajetória do Movimento Ambientalista. IN: PHILIPPI JR,  Educação Ambiental e sustentabilidade. Ed USP/NISAM/ MANOLE SP 2003

Philippi, Arlindo. Educação Ambiental e sustentabilidade. Ed USP/NISAM/ MANOLE SP 2003

Prado jr, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. Ed Brasiliense 1965

REIGOTA, M. Ciência e Sustentabilidade: a contribuição da educação ambiental. Revista da Avaliação da Educação Superior de Campinas, São Paulo, vol. 12, no. 2, Jun 2007, pág. 219-232.

Sader, Emir. Século XX uma biografia não autorizada. Ed Persei abramo SP 2000

Santos, Milton. Por uma outra globalização. Ed Record. RJ 2000

Sevcenko, Nicolau. A corrida para o século XXI no loop da montanha Russa. Ed. Companhia das letras SP 2001

SORRENTINO, M. de Tbilisi a Tessaloniki. A educação ambiental no Brasil. In: JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998, pág. 27-32.

Sousa, Nelson Melo e. Educação ambiental dilemas da pratica contemporânea. Ed Thex SP 2000

Tadei, Emilio. Resistências mundiais. Ed Vozes RJ 2001

Vieira, Maria Alice/ Garcia, Marco Aurelio. Rebeldes e contestadores 1968.Brasil França e Alemanha Ed Perseu Abramo SP 1999

Zioni, Fabiola. (educação ambiental e sustetabilidade) Ciências sociais e o meio ambiente. Ed USP/NISAM MANOLE SP 2003





Pereira, Vagner Roberto