ESCRITA; UM PROCESSO VIVO E INTERATIVO.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

RESENHA: AS CONEXÕES OCULTAS.

Identificação da obra

As conexões ocultas: Ciência para uma vida sustentável.
De Capra; Fritjof.  Tradução Marcelo Brandão Cipolla.
Editora Cultrix. SP 2002.  296 páginas.

Título original: The hidden connections.

1. Ciência – filosofia, 2. Ecologia, 3.Tecnologia, 4.Globalização, 5. Política – economia.   

O autor

Fritjof Capra concluiu em 1966 seu doutorado em física teórica pela universidade de Viena na Áustria. Físico e teórico dos sistemas ele é um dos fundadores e diretor do centro de eco-alfabetização de Berkeley, Califórnia, além de escrever extensamente sobre as aplicações filosóficas da nova ciência.

Outras obras.

O Tao da física.  1975.
O ponto de mutação 1982.
Sabedoria incomum 1988.
Pertencendo ao universo 1992.
A teia da vida: Uma nova concepção Cientifica dos sistemas vivos 1996.
As conexões ocultas: Ciência para uma vida sustentável 2002.
Alfabetização ecológica: A educação das crianças para um mundo sustentável 2006.

As conexões ocultas: Ciência para uma vida sustentável

As formulações de Fritjof Capra em relação à nova compreensão da vida estão ligadas de forma congênita a tradição intelectual e filosófica da teoria dos sistemas. Tradição filosófica que defende a idéia de que a ecologia profunda não separa os seres humanos da natureza e reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos.
A investigação de Capra nesse livro esta focada principalmente nos processos e padrões de organização dos sistemas vivos, ou como ele mesmo diz “...nas conexões ocultas entre os fenômenos...”.    
Aplicando uma abordagem sistêmica ao domínio social, o tema central que Capra desenvolve em conexões ocultas é a mudança de paradigmas, ou melhor, a mudança fundamental de visão de mundo que esta ocorrendo nas ciências e na sociedade; e o desenvolvimento de uma nova visão da realidade e as conseqüências sociais dessas transformações culturais. O que segundo ele “...cria uma nova visão da realidade cujo centro é ocupado pela própria vida...”.
Com o objetivo de apresentar uma estrutura teórico-conceitual que integrem as dimensões biológicas, cognitiva e social da vida, Capra oferece uma visão unificada da sociedade e desenvolve uma maneira coerente e sistêmica de encarar algumas questões mais critica da nossa época. Capra defende em seu livro a alfabetização ecológica, de concepção sistêmica e unificada, onde o padrão básico de organização da vida é a rede, e os sistemas vivos devem ser analisados sob quatro perspectivas interligadas: a forma, a matéria, o processo e o significado.
Na primeira parte do livro Capra levanta a seguinte questão: “...Em que medida uma organização humana pode ser considerada um sistema vivo?...”. Com o intuito de contribuir conceitualmente à essa questão, Capra apresenta uma estrutura teórica que trata respectivamente da natureza da vida, da natureza da mente e consciência e da natureza da realidade social.
A primeira definição conceitual é em relação às características que definem um sistema vivo. Citando vários outros cientistas e teóricos, Capra conclui que o padrão de organização em redes é comum a todas as formas de vida, ele também identifica a dinâmica auto-geradora como uma das características fundamentais na definição do que é um sistema vivo.
A atividade organizadora dos sistemas vivos é outra característica apontada por Capra. Segundo ele as interações de um organismo vivo com seu ambiente são interações cognitivas, ou seja, a atividade organizadora dos sistemas vivos, em todos os níveis de vida é uma atividade mental o que quer dizer que a vida e a cognição estão inseparavelmente ligadas. Ele ainda aponta que a ocorrência de mudanças estruturais provocadas pelo contato com o ambiente, seguidas de uma adaptação, um aprendizado e um desenvolvimento, é outra característica fundamental de todos os sistemas vivos.
Podemos concluir a partir dessa proposição que além de os sistemas vivos se ligarem estruturalmente ao seu ambiente por meio de interações que desencadeiam mudanças estruturais, outras características que define um sistema vivo é a presença, nesse contexto de mudanças, de uma rede de processos metabólicos e auto-geradores.   
 Sinteticamente, Capra define o padrão de organização de um sistema vivo como sendo a configuração das relações entre os componentes do sistema, a rede; a estrutura do sistema como a incorporação material desse padrão de organização e o processo vital como o processo continuo e metabólico dessa incorporação. Ou melhor: forma: padrão de organização; matéria: estrutura material; processo: metabolismo.
Sobre esse marco conceitual, Capra aplica uma quarta perspectiva: os fenômenos sociais que não ocorre na maioria do mundo extra humano, mas caracteriza a natureza da realidade social. Ele justifica: “...a compreensão sistêmica da vida pode ser aplicada ao domínio social se acrescentarmos a perspectiva do significado aos outros três pontos de vista sobre a vida...”.
A diferenciação básica segundo Capra, é que nos sistemas biológicos os processos metabólicos são redes de reações físico-químicas enquanto que os processos que sustentam as redes sociais são processos de comunicação que geram um corpo comum de significados, conhecimentos e regras de comportamento.
Enfim, as organizações humanas são sistemas vivos na medida em que estão organizadas em redes, se auto-reproduzem e respondem as perturbações externas com mudanças estruturais.
Na segunda parte Capra se debruça sobre os desafios do século XXI, e debate a necessidade premente das organizações humanas de passarem por uma mudança fundamental, tanto para adaptar-se ao novo ambiente quanto para tornar-se sustentável do ponto de vista ecológico. Com o intuito desenvolver uma compreensão unificada dos desafios citados, Capra aplica em sua analise os conceitos que foram desenvolvidos na primeira parte do livro.
Segundo ele, a cultura nasce de uma rede de comunicação entre os indivíduos e a cultura que criamos e sustentamos com nossas redes globais de comunicação determinam valores, crenças e regras de conduta.
Nas últimas décadas do século XX cresceu a percepção de que um novo mundo estava surgindo, moldado pelas novas tecnologias, pelas novas estruturas sociais, por uma nova rede de comunicação e por uma nova economia global com efeitos desastrosos. Por outro lado surgiu, também, uma consciência de que a maioria dos nossos problemas ambientais e sociais tem suas raízes profundas em nosso sistema econômico, com sua visão que ignora os padrões e interconexões ecológicas e busca a todo custo submeter à natureza ao controle humano.
De acordo com analise de Capra podemos concluir que a forma atual do capitalismo global é insustentável do ponto de vista social e ecológico e por isso é politicamente inviável a longo prazo. Segundo ele “... precisamos de uma mudança sistêmica profunda...a maneira concreta de fazer isso é mudar o principio básico da programação do sistema global das redes financeiras e os valores que exaltam o consumo material...”. E esse é sem duvida o maior desafio do nosso tempo.
            Não há duvidas de que atualmente passamos por mais um movimento revolucionário. A consciência da história é principalmente a consciência da mudança ou da necessidade da mudança, o que implica a intenção de mudar, de aperfeiçoar ou de restaurar uma determinada realidade.
O que se evidencia no discurso dos ecologistas e de alguns seguimentos revolucionários atualmente, é essa consciência histórica; o grande desafio do século XXI é o da mudança do sistema de valores que esta por trás da economia global, de modo a torná-lo compatível com as exigências da dignidade humana e da sustentabilidade ecológica. E como vimos esta consciência histórica está presente no texto de Capra.
Como as normas e regras de convivência são constantes e repetitivas, não apenas no âmbito do tempo de vida de uma única pessoa, mas para todas as gerações que podem se encontrar, o que quer dizer, o contato entre diferentes grupos humanos acarreta a combinação e a síntese de diversos sistemas de valores. Segundo Heller¹ os valores passam por um processo de construção e são portadores de uma objetividade social, mas como não são leis naturais os valores humanos podem mudar. E essa é a esperança de todas as proposições revolucionarias atuais, mudança dos valores que exaltam o consumo material, dos valores que regulam o sistema financeiro global e que desencadeiam uma série de conseqüências negativas.  Na segunda parte do livro Capra corrobora essa idéia e afirma “...o primeiro passo no esforço de construção de novos valores e de uma sociedade sustentável é a alfabetização ecológica, ou seja, a compreensão dos princípios de organização comuns a todos os sistemas vivos que os ecossistemas desenvolvem para sustentar a teia da vida...”.  
           
           
¹ Heller, Agnes. Uma teoria de História. Ed Civilização Brasileira. RJ
                                               
                                                                                                              Pereira, Vagner Roberto.

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